John McAfee: O Gênio Perturbado que Criou a Indústria do Antivírus e Viveu uma Vida Alucinante

Origem e Infância: O Peso de um Trauma Precoce

McAfee nasceu em 18 de setembro de 1945 em Cinderford, Gloucestershire, Inglaterra, em uma base do Exército dos Estados Unidos, filho de um soldado americano (Don McAfee) e de uma mãe britânica (Joan Williams). Quando era criança, sua família mudou-se para Salem, Virgínia, onde cresceria durante seus anos formativos. No entanto, aqueles anos foram tudo menos tranquilos.^[1][2]

Seu pai era um alcoólatra abusivo que infligia "espancamentos impiedosos" tanto a John quanto a sua mãe. O futuro pioneiro da segurança cibernética vivia em constante medo, nunca sabendo quando uma surra poderia acontecer. Aquele trauma infantil moldaria a psicologia de McAfee pelo resto de sua vida. Aos 15 anos, seu pai colocou uma arma contra a cabeça e se suicidou. O choque da perda violenta, combinado com anos de abuso, causou danos profundos. McAfee começou a beber pesadamente e usar drogas desde a adolescência — um padrão que o perseguiria por décadas.^[3][2:1][4]

Apesar da adversidade, McAfee revelou-se um estudante excepcional em matemática. Formou-se pela Roanoke College em 1967 com um diploma em matemática, e posteriormente ingressou em um programa de doutorado na Northeast Louisiana State College. Porém, sua carreira acadêmica foi interrompida de forma humilhante: em 1968, foi expulso depois que foi descoberto tendo um relacionamento romântico com uma aluna que deveria estar sob sua orientação como assistente de ensino. Ele se casou com essa aluna — seu primeiro casamento, que duraria pouco.^[2:2][1:1]

Os Anos de Busca: De NASA a Lockheed

Após a expulsão da universidade, McAfee ingressou no mundo corporativo de tecnologia. De 1968 a 1970, trabalhou como programador na NASA's Institute for Space Studies em Nova York, sendo parte da era espacial americana. Seu trabalho foi tão bom que ajudou a codificar partes dos primeiros sistemas computacionais da missão Apollo.^[1:2][2:3]

Mas McAfee era inquieto — um "job-hopper" antes que o termo se popularizasse. Deixou a NASA e trabalhou como designer de software na Univac, depois como arquiteto de sistema operacional na Xerox. Em 1978, juntou-se à Computer Sciences Corporation como consultor de software. De 1980 a 1982, trabalhou para a Booz Allen Hamilton. Durante todos esses anos, sua genialidade em programação era inegável, mas sua vida pessoal era um caos. Ele usava LSD e outros psicoativos enquanto trabalhava, e em certo momento enquanto estava empregado pela Missouri Pacific Railroad, lutou com dependências sérias de cocaína e álcool.^{[5][3:1][2:4][1:3]}

Em 1983, McAfee finalmente procurou ajuda, participando de Alcoólicos Anônimos e conseguindo ficar sóbrio. Esse período de recuperação durou até seus últimos anos, quando recaiu em outras drogas mais obscuras.^[3:2]

1987: O Nascimento da Indústria do Antivírus

A real virada na vida de McAfee ocorreu em 1986, enquanto trabalhava na Lockheed. Naquele ano, recebeu uma cópia do vírus Brain — o primeiro vírus de computador criado para atacar PCs em MS-DOS. Enquanto a maioria das pessoas tinha terror da infecção, McAfee ficou fascinado. Ele estudou como o vírus funcionava e decidiu que a melhor forma de combater ameaças crescentes era criar programas para detectá-las e removê-las.^[5:1]

Em um feito notável, McAfee criou seu primeiro programa antivírus em apenas um dia e meio. Ele chamou de VirusScan. O programa era excelente — um padrão-ouro em detecção sem falsos positivos. E então, em 1987, fundou a McAfee Associates, a primeira empresa comercial do mundo dedicada especificamente a software antivírus.^{[6][3:3][5:2]}

Seu modelo de negócio foi revolucionário — oferecia o software gratuitamente para usuários individuais (através do sistema de "shareware") enquanto cobrava taxas de licença das empresas. Na época, isso soou loucura para os investidores. Mas funcionou lindamente. Por 1990, a empresa já faturava $5 milhões por ano. Em 1992, a empresa abriu capital (IPO), transformando McAfee em um homem muito rico.^[5:3]

O Pânico de Michelangelo: Fama e Hype

O verdadeiro catalisador para a fama global de McAfee foi o vírus Michelangelo de 1992. Em princípios de fevereiro de 1992, McAfee alegou publicamente que esse vírus poderia infectar até 5 milhões de computadores IBM pessoais, com danos estimados em $60 milhões. Ele apareceu na TV, incluindo em episódios do PBS NewsHour, como o "especialista" em vírus de computador.^[7][8][6:1]

A realidade foi bem diferente. Quando o "Dia de Tecnodoomsday" chegou — 6 de março de 1992 — apenas alguns milhares de máquinas foram realmente infectadas, não milhões. Mas o dano à reputação (ou à genialidade de marketing) já tinha sido feito. O pânico que McAfee havia ajudado a criar havia consolidado a ideia de que proteção antivírus era uma necessidade crítica. Sua empresa e a indústria de segurança explodiram em tamanho. McAfee ficou extremamente rico.^[6:2][7:1]

A Saída e a Crítica ao Próprio Legado

Por volta de 1993, McAfee se afastou do cargo de CEO e tornou-se CTO (Chief Technology Officer). Em 1994, vendeu sua participação restante na empresa — suas negociações e vendas de ações lhe renderam cerca de $84 milhões. Curiosamente, McAfee se desligou no auge do sucesso.^[3:4][6:3]

Décadas depois, McAfee se tornou um dos críticos mais vocais de seu próprio produto. Em 2010, quando a Intel adquiriu a McAfee Associates por $7,6 bilhões, McAfee não pôde resistir. Ele declarou publicamente que estava "eternamente grato à Intel por me libertar dessa terrível associação com o pior software do planeta". Ele frequentemente recomendava que as pessoas desinstalassem o software McAfee, considerando-o "bloatware" (software desnecessário e pesado).^[9][2:5]

2008: A Queda Financeira

O sucesso inicial mascarava a realidade de que McAfee nunca havia aprendido a gerir sua riqueza adequadamente. Em 2008, durante a crise financeira global, sua fortuna desabou. Sua riqueza encolheu de aproximadamente $100 milhões para apenas $4 milhões. Este colapso financeiro coincidiu com uma reorientação perigosa de sua vida pessoal.^[3:5]

Os Anos de Belize: Paranoia, Drogas e Obscuridade

Em 2009, com o dinheiro restante, McAfee decidiu deixar os EUA e se mudar para Belize, onde comprou propriedades em duas localidades: a ilha de Ambergris Caye (um retiro à beira-mar) e uma propriedade remota em Orange Walk, no interior da floresta.^[10][11]

Em Ambergris Caye, McAfee contratou guardas de segurança armados, comprou cães agressivos e estabeleceu uma propriedade tipo "fortaleza". Em Orange Walk, criou um laboratório de pesquisa onde alegava estar desenvolvendo antibióticos à base de plantas. Ele alimentava famílias locais pobres e oferecia empregos.^{[11:1][10:1][3:6]}

Mas a realidade era mais obscura. Em abril de 2012, a Gang Suppression Unit (GSU) da polícia de Belize raideou sua propriedade em Orange Walk, acusando-o de operar um laboratório de metanfetamina. McAfee insistiu que era um laboratório de biotecnologia legítimo — e, tecnicamente, ele poderia estar certo, já que had contratado meia centena de pessoas locais que conheciam seu trabalho. A polícia confiscou armas, matou um de seus cães, e McAfee foi preso por 14 horas antes de ser liberado.^{[12][10:2][11:2]}

Durante esses anos em Belize, McAfee havia começado a experimentar com drogas recreativas muito obscuras e potentes. Em 2010, ele começou a postar em fóruns de drogas (como o Bluelight) sobre "bath salts" e outras drogas sintéticas catinônicas. Sua droga de escolha acabou sendo alpha-PHP — uma droga análoga ao "flakka" mas ainda legal nos EUA à época — que ele encomendava da China em pacotes. Jornalistas investigadores descobriram que alpha-PHP é potencialmente mais potente que alpha-PVP, causando alucinações intensas, paranoia extrema e comportamentos delirantes.^[13]

O Assassinato de Gregory Faull: Fuga de Belize

No 12 de novembro de 2012, o vizinho americano de McAfee, Gregory Viant Faull, foi encontrado morto com um tiro na cabeça em sua casa em Ambergris Caye. Faull tinha 52 anos e era um veterano da Marinha que reclamara frequentemente sobre os cães agressivos de McAfee.^[14][15]

A polícia de Belize procurou McAfee para questionamento. Mas em vez de se apresentar, McAfee — alegando temer ser morto pela polícia — fez algo extraordinário: enterrou-se na areia com uma caixa de papelão sobre a cabeça para respirar, escondendo-se por horas. Quando finalmente emergiu, fugiu de Belize, tornando-se um "fugitivo em fuga" que se comunicava com jornalistas via blog e email.^{[16][17][14:1]}

McAfee negou veementemente envolvimento no assassinato de Faull. A polícia de Belize disse que não o considerava um suspeito, apenas uma "pessoa de interesse". No entanto, em 2018, um tribunal no Orlando, Flórida, se recusou a descartar uma ação judicial de morte injusta contra McAfee. Em 2014, McAfee perdeu por padrão e foi ordenado a pagar $25 milhões à família Faull.^{[17:1][2:6][14:2]}

O mistério de quem realmente matou Gregory Faull nunca foi definitivamente resolvido. Alguns documentários (como "Gringo: The Dangerous Life of John McAfee" de 2016) sugerem a possibilidade de envolvimento de McAfee; outros mantêm que foi um crime de Belize ou que envolveu outros atores.^[17:2]

A Fuga: Guatemala e o Retorno aos EUA

De Belize, McAfee fugiu para Guatemala. Lá, vivendo em um hotel luxury enquanto se escondia, pediu asilo político, argumentando que a polícia de Belize o perseguia injustamente. Em 5 de dezembro de 2012, foi preso por entrar ilegalmente na Guatemala.^[16:1][2:7]

Enquanto detido em Guatemala, McAfee fez algo notável: alegou ter tido dois ataques cardíacos para ganhar tempo enquanto seu advogado apelava contra sua deportação para Belize. Semanas depois, ele admitiu que havia fingido os ataques cardíacos para conseguir mais tempo legal. A estratégia funcionou — em vez de ser enviado de volta para Belize, McAfee foi deportado para os EUA em 12 de dezembro de 2012.^[18]

Após sua chegada aos EUA, McAfee mudou-se para tentar reconstruir sua imagem pública. Mas a era de esconder-se na floresta de Belize havia deixado cicatrizes profundas em sua psicologia.

As Previsões do Bitcoin: "Vou Comer Meu..."

Conforme McAfee se reposicionava como figura pública, ele se tornou um entusiasta fervoroso de criptomoedas, particularmente Bitcoin. Em 2017, fez uma previsão audaciosa: o Bitcoin chegaria a $500.000 dentro de três anos. E adicionou uma promessa perturbadora: "Se não chegar lá, vou comer meu próprio pênis na televisão nacional".^[19][20]

À época, o Bitcoin era negociado perto de $2.000. Conforme os preços subiram em 2017, McAfee ajustou sua previsão: em novembro de 2017, predisse $1 milhão até o final de 2020. Novamente, prometeu cumprir sua aposta grotesca se falhasse.^{[21][20:1][19:1]}

Bitcoin nunca atingiu $500.000 até 2020, muito menos $1 milhão. McAfee nunca cumpriu sua promessa. Em 2019, McAfee fez outra previsão: quando o Bitcoin atingisse $100.000, haveria um "rápido salto" para $1 milhão. Novamente, isso não se materializou — pelo menos não durante sua vida.^[20:2]

Candidaturas Presidenciais: O Libertário Excêntrico

Em 2016, McAfee concorreu à nomeação presidencial pelo Partido Libertário, mas ficou em terceiro lugar. Não desanimado, em 2018 anunciou que concorreria novamente em 2020 com a plataforma de um "advogado público para a comunidade cripto". Novamente, em 2020, ele buscou a nomeação libertária, mas Jo Jorgensen foi escolhida em seu lugar.^[22][23]

As candidaturas de McAfee refletiam sua crescente desconfiança do governo americano. Ele era um fervoroso defensor da privacidade, contrário à vigilância do governo (irônico, considerando toda a sua paranoia), e via as criptomoedas como uma forma de escapar do "controle estatal" sobre sistemas financeiros.^[2:8]

Os Esquemas de Criptomoedas: Fraude e Pump-and-Dump

Enquanto vendia uma imagem de libertário idealista, McAfee estava secretamente envolvido em esquemas de criptomoedas questionáveis. Em março de 2021, foi indiciado por fraude e lavagem de dinheiro juntamente com seu assistente Jimmy Gale Watson Jr..^[24][25]

Os promotores alegaram que McAfee e Watson operavam um esquema "pump-and-dump" clássico: compravam grandes quantidades de altcoins (criptomoedas menores), depois McAfee as promovia em seu Twitter (com ~784.000 seguidores) sem divulgar que possuía as moedas, causando seus preços dispararem, e então vendiam pelo lucro.^[25:1][24:1]

Um exemplo: em dezembro de 2017, McAfee comprou Verge (XVG) por cerca de $50.000 e a promoveu para seus seguidores, dizendo que era uma moeda que "não pode perder". XVG disparou 500% em quatro dias, e McAfee vendeu por um lucro de ~$30.000. Posteriormente, tuitou negando qualquer participação: "Eu não tenho XVG. Vivo como você pessoas superficiais não conseguem diferenciar alguém que compartilha seus pensamentos honestamente de alguém com motivos ulteriores." — uma mentira provada pelos documentos do tribunal.^[25:2]

McAfee e Watson fizeram isso repetidamente com Electroneum, Dogecoin, e muitas outras altcoins menores, segundo os promotores, acumulando $2 milhões em lucros ilegais através de seus esquemas.^[24:2][25:3]

Além disso, McAfee e seus associados também promoveram Ofertas Iniciais de Moedas (ICOs) no Twitter, recebendo $11 milhões em compensações não divulgadas dos emissores de ICO, enquanto dizia aos seguidores que não tinha interesses financeiros.^[24:3][25:4]

Se condenado, McAfee enfrentava até 80 anos de prisão por esses crimes.^[25:5]

2019: Preso na República Dominicana com Armas

Em 2019, enquanto ainda evitava impostos americanos, McAfee foi brevemente detido na República Dominicana quando tentava sair do país em um iate, acusado de traficar armas de alto calibre. Ele foi liberado, mas o incidente marcou outro capítulo em sua história de fugas legais.^[26]

2019: A Tatuagem "$WHACKD" e a Profecia Sombria

Em novembro de 2019, McAfee twittou uma foto de uma tatuagem que havia feito em seu braço direito que lia "$WHACKD" (gíria para "assassinado"). A foto acompanhava um aviso perturbador:^[27][28]

"Recebendo mensagens sutis de oficiais dos EUA, basicamente dizendo: 'Estamos vindo atrás de você, McAfee! Vamos fazer parecer que você se suicidou.' Recebi uma tatuagem hoje só para constar. Se eu me suicidar, não fui eu. Fui whackd."^[29][28:1]

McAfee comparou sua situação com a morte de Jeffrey Epstein, que havia morrido na prisão em circunstâncias contestadas em agosto de 2019. A tatuagem e o tweet tornaram-se proféticos — ou paranoia — apenas dois anos depois.^[27:1]

Outubro de 2020: Preso na Espanha

Em outubro de 2020, McAfee foi preso no aeroporto de Barcelona enquanto tentava embarcar em um voo para Istanbul. Aguardava extradição para os EUA por acusações de evasão fiscal.^[30][9:1]

Os promotores federais americanos alegavam que McAfee havia deixado de declarar impostos de 2014 a 2018, apesar de ganhar milhões de dólares de trabalho de consultoria, honorários de palestras, criptomoedas e a venda dos direitos de sua história para um documentário. Ele também havia ocultado ativos, incluindo um iate e propriedades de luxo, em nomes de outras pessoas.^[31][30:1]

McAfee alegou que não pagava impostos por razões ideológicas, argumentando que "a tributação é ilegal". Se condenado, enfrentaria até 30 anos de prisão.^[26:1][9:2]

Enquanto aguardava extradição, McAfee twittou vigorosamente sua inocência e argumentou que as acusações eram politicamente motivadas contra seus esforços libertários. A Corte Nacional Espanhola, entretanto, concluiu que não havia "nenhuma evidência reveladora" de perseguição política.^[31:1]

23 de Junho de 2021: Morte Enigmática

Em 23 de junho de 2021, apenas poucas horas após a Corte Nacional Espanhola aprovar sua extradição para os EUA, McAfee foi encontrado morto em sua cela de prisão perto de Barcelona. Funcionários da prisão tentaram reanimá-lo, mas falharam. A causa oficial foi declarada "suicídio por enforcamento".^{[32][31:2][26:2]}

A morte desencadeou imediatamente especulações sobre conspiração. Sua viúva, Janice Dyson (38 anos, que ele havia conhecido quando ela trabalhava como profissional do sexo em Miami em 2012), insistiu que ele não era suicida. Ela afirmou que sua última comunicação foi McAfee dizendo "Eu te amo e vou te ligar à noite" — palavras que, segundo ela, não vinham de alguém com pensamentos suicidas.^[33][27:2]

O corpo de McAfee permaneceu em um necrotério em Barcelona por mais de dois anos enquanto sua família e ex-esposa batalham legalmente sobre o que fazer com seus restos. Em setembro de 2023, um tribunal de Barcelona finalmente descartou o pedido da família por uma segunda autópsia, confirmando oficialmente que a morte foi suicídio.^[32:1]

Porém, as teorias de conspiração persistem na internet. Seus tweets proféticos de 2019 — "Se eu me suicidar, não fui eu. Fui whackd." — continuam alimentando especulações.

Vida Pessoal: 47 Filhos e Casamentos Conturbados

Além de sua carreira e escândalos legais, McAfee tinha uma vida pessoal extremamente complexa. Casou-se pelo menos três vezes. Seu primeiro casamento foi com a aluna que causou sua expulsão da universidade. Depois casou com Judy McAfee, que o ajudou a construir sua empresa multimilionária; os dois divorciaram em 2002.^[33:1]

Seu terceiro e último casamento foi com Janice Dyson em 2013, após tê-la conhecido em Miami Beach um ano antes. Janice tinha 3 filhos de relacionamentos anteriores, criando uma família ensamblada.^[33:2]

Mas talvez seu "legado familiar" mais infame tenha sido sua afirmação de ter 47 filhos biológicos de diversos relacionamentos. Em janeiro de 2020, twittou: "Que bênção ter 47 filhos, 61 netos e 19 bisnetos.". Ele adicionou: "Esses números poderiam ter sido muito menores se testes de DNA tivessem existido enquanto eu crescia. Sem interesse neste ponto. Para mim, legado não tem nada a ver com sangue e tudo a ver com o entendimento de que toda criança que cruza seu caminho é sua criança."^[8:1][34]

Ele afirmou que ficava em contato com todos os seus filhos e cuidava deles financeiramente, embora admitisse ser difícil acompanhá-los: "Quase todos eram ilegítimos."^[8:2]

Legado Complexo: Inovador e Cautela

John McAfee deixou um legado paradoxal. Por um lado, foi um verdadeiro pioneiro que revolucionou a segurança cibernética. Sua criação do primeiro antivírus comercial em 1987 catalisou uma indústria multibilionária que protege bilhões de computadores. Ele é creditado por "colocar a segurança cibernética no mapa" em um momento crítico da história da tecnologia.^[6:4][5:4]

Mas por outro lado, sua vida pós-negócios é um testemunho sombrio de como genialidade intelectual, dependência química e paranoia podem convergir para criar um caos pessoal. Seu envolvimento em fraudes de criptomoedas, evasão fiscal, e comportamentos cada vez mais erráticos tiveram consequências para muitos — desde investidores enganados até suas próprias famílias.^[35]

McAfee era um homem que buscava liberdade — liberdade do governo, liberdade das convenções, liberdade da tributação. Mas sua busca por liberdade o levou a escolhas que o prenderam literal e metaforicamente. Sua morte em uma cela de prisão na Espanha, enquanto aguardava extradição, é uma conclusão apropriadamente trágica para uma vida vivida nos extremos.

Hoje, seu nome permanece sinonímico com antivírus — mesmo que ele tenha passado suas últimas décadas pedindo para as pessoas desinstalarem seu software. É uma ironia que provavelmente teria apreciado.
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