Cansado, mas ainda não terminei.
Um desabafo sobre anos de luta silenciosa: a sensibilidade que me isola, os julgamentos infundados e o cansaço de conviver com uma mente obsessivamente analítica.
Creio que o que segue será, antes de tudo, um desabafo. Estive ausente, em parte porque minha vida parece ter se invertido por completo. Não é segredo que, por quase treze anos, travei uma batalha contínua contra uma forma de depressão que praticamente me incapacitou. Cheguei, inclusive, a receber de um antigo psiquiatra a recomendação de realizar ECT — eletroconvulsoterapia — um procedimento que, sim, ainda existe.
Sabe, meu amigo — talvez você nem esteja lendo isto — mas eu sou, de todas as pessoas que conheço, a mais frágil. Não nutro ódio por nada, não julgo nada, porém carrego uma sensibilidade que me permite sentir absolutamente tudo: do amor mais profundo à angústia mais dilacerante. Não sou de frequentar muitos lugares nem de conversar com muitas pessoas; os traços de minha neuroatipicidade se revelam em uma personalidade reservada, introspectiva, que sempre buscou certa discrição.
Nunca me adaptei a grupos. Não gosto de multidões, de ambientes cheios ou barulhentos — não por desprezo, mas porque minha sensibilidade faz com que eu escute tudo ao mesmo tempo. Imagine-se em uma sala repleta de gente e, de repente, capaz de perceber simultaneamente várias conversas, ruídos e movimentos. É exaustivo. É angustiante. E, inevitavelmente, isso me conduziu a um isolamento que, num primeiro momento, foi doloroso, mas ao qual acabei por me habituar — e, de certo modo, até apreciar.
O efeito colateral dessa condição foram as histórias que começaram a ser inventadas sobre mim. Vivo em uma cidade pequena e me vejo obrigado a ouvir absurdos ditos por pessoas que nunca trocaram um único minuto de conversa comigo, mas que têm plena convicção — embora sem qualquer fundamento — de que sabem a verdade. Às vezes me sinto como um muro de vidro, forçado a desviar de pedradas constantes, sem sequer compreender por que elas são lançadas. Atribuem-me atitudes e intenções que não condizem comigo, apenas para terem algo a comentar. E o mais impressionante é que nenhum deles jamais demonstrou interesse real em me conhecer.
Tenho meus conflitos, minhas inquietações, uma mente que funciona de maneira obsessivamente analítica — e o peso disso é enorme. Estou cansado. Houve inúmeras vezes em que pensei em desistir, não por causa dessas pessoas, mas pelo conjunto de tudo, pelo medo de permanecer aprisionado nessa condição com a qual ainda aprendo a conviver.
Carrego tatuado no peito o nome de uma opereta: vide cor meum. Traduzindo, “veja meu coração”. Gostaria que essa fosse a única verdade absoluta sobre mim. Admitir tudo isso não foi fácil. Mas é o que tenho para hoje.
É isso.
Até muito em breve,
Pablo