A Maçonaria nos Países Árabes

A Maçonaria no Oriente Médio divide-se entre cinco países com prática legal (Turquia, Israel, Líbano, Marrocos e Jordânia) e várias nações que a proíbem, sujeitando maçons a perseguição. Ritos Escocês, York e Memphis‑Mizraim predominam na região.

A Maçonaria nos Países Árabes

A Maçonaria no Oriente Médio: Situação Atual, Tratamento e Ritos Praticados

A maçonaria no Oriente Médio apresenta um cenário complexo e diversificado, caracterizado por uma divisão clara entre países que permitem a prática maçônica e aqueles que a proíbem completamente. Esta pesquisa examina o tratamento dispensado aos maçons, identifica os países com maior presença maçônica e analisa os ritos mais comumente praticados na região.

Situação Atual da Maçonaria no Oriente Médio

Países com Atividade Maçônica Regular

Atualmente, apenas cinco países do Oriente Médio permitem o funcionamento regular da maçonaria: Turquia, Israel, Líbano, Marrocos e Jordânia[1][2][3]. Estes países representam as únicas jurisdições onde a maçonaria pode operar legalmente e de forma organizada.

Situação da Maçonaria no Oriente Médio - Países com atividade maçônica regular

Situação da Maçonaria no Oriente Médio - Países com atividade maçônica regular

A Turquia lidera significativamente em termos de presença maçônica, com aproximadamente 260 lojas ativas e cerca de 17.000 membros[4]. Esta predominância deve-se ao caráter laico do Estado turco, estabelecido após a revolução dos Jovens Turcos comandada por Kemal Atatürk no início do século XX[5]. A Grande Loja da Turquia, fundada em 1909, representa uma das mais antigas e estabelecidas organizações maçônicas da região[6][4:1].

Entrance window of a Masonic lodge in Turkey with the symbol and founding year 1909.

Entrance window of a Masonic lodge in Turkey with the symbol and founding year 1909.

Israel ocupa a segunda posição, com aproximadamente 70 lojas ativas e cerca de 2.000 membros[7][8]. A Grande Loja do Estado de Israel, consagrada em 1953, é notável por sua composição multicultural e multi-religiosa, incluindo membros judeus, árabes cristãos e muçulmanos[7:1][8:1]. O país é único na região por ter tido Grão-Mestres de origem árabe, como Jamil Shalhoub em 1981-1982 e Nedim Mansour em 2010[7:2].

Emblem of the Grand Lodge of Jerusalem, a Masonic lodge in the Middle East, featuring traditional Masonic symbols and Latin motto.

Emblem of the Grand Lodge of Jerusalem, a Masonic lodge in the Middle East, featuring traditional Masonic symbols and Latin motto.

O Líbano mantém uma presença maçônica histórica significativa, com aproximadamente 13 lojas ativas e cerca de 600 membros[9]. A primeira loja maçônica foi estabelecida pela Grande Loja da Escócia em 1861[10][9:1]. O país é considerado por muitos historiadores como tendo conexões com as origens da maçonaria, especialmente através da tradição dos construtores do Templo de Salomão[10:1].

Países com Maçonaria Proibida

A maioria dos países do Oriente Médio proíbe explicitamente a maçonaria. Esta proibição abrange nações como Arábia Saudita, Irã, Iraque, Síria, Egito, Kuwait, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Argélia e Tunísia[1:1][11][12].

Tratamento dos Maçons na Região

Perseguição e Repressão

O tratamento dos maçons no Oriente Médio varia drasticamente entre países que permitem e aqueles que proíbem a prática. Nos países onde a maçonaria é proibida, os maçons enfrentam perseguição sistemática, prisão e, em casos extremos, execução[13][12:1].

O Irã representa o caso mais grave de perseguição. Durante a Revolução Islâmica de 1979, liderada pelo Aiatolá Khomeini, a maçonaria foi imediatamente proibida[13:1][14]. Os Guardas Revolucionários invadiram templos, confiscaram propriedades e perseguiram maçons e suas famílias[5:1]. Pelo menos 200 maçons foram executados por serem membros da fraternidade, e muitos outros fugiram do país[13:2]. O destino dos aproximadamente 1.100 maçons que existiam no Irã em 1978 permanece desconhecido[13:3].

Na Arábia Saudita, as autoridades policiais realizaram batidas sistemáticas contra as lojas maçônicas, forçando todas a cessarem suas atividades[1:2][12:2]. Atualmente, existem apenas grupos fraternais muito discretos no país[1:3].

Teorias Conspiratórias

Uma das principais razões para a hostilidade contra a maçonaria no mundo islâmico é a prevalência de teorias conspiratórias que associam a ordem ao sionismo internacional e ao judaísmo[15][11:1]. Estas teorias, frequentemente baseadas em documentos forjados como os "Protocolos dos Sábios de Sião"[16], retratam a maçonaria como parte de uma conspiração judaico-maçônica para o domínio mundial.

O Hamas, em sua carta fundadora de 1988, especificamente menciona os maçons como inimigos, afirmando que "os inimigos... formaram organizações secretas, como os Maçons, os Rotary Clubs e os Lions"[17]. Esta retórica alimenta a desconfiança e hostilidade contra a maçonaria em muitos países árabes.

Países Tolerantes

Nos países onde a maçonaria é permitida, o tratamento varia de tolerância oficial a apoio governamental. Na Turquia, a maçonaria é vista como uma organização respeitável que contribuiu para a modernização do país[4:2]. A Jordânia é particularmente notável, tendo tido dois reis maçons: Hussein bin Talal (1935-1999) e o atual rei Abdullah II bin Al-Hussein[18].

Ritos Maçônicos Praticados no Oriente Médio

Ritos Predominantes

A pesquisa revela que o Rito Escocês Antigo e Aceito é o mais amplamente praticado no Oriente Médio, representando aproximadamente 65% de todas as práticas maçônicas na região[19][20][21]. Este rito domina especialmente na Turquia, Marrocos e Israel.

Distribuição dos ritos maçônicos praticados no Oriente Médio

Distribuição dos ritos maçônicos praticados no Oriente Médio

O Rito de York representa cerca de 20% das práticas, sendo particularmente popular em Israel, onde as lojas trabalham em múltiplas línguas[7:3][22]. O Rito de Memphis-Mizraim, com suas conexões egípcias, representa aproximadamente 8% das práticas[23][24], enquanto o Rito Francês e outros ritos menores completam o quadro[19:1].

Ritos Específicos da Região

Rito de Memphis-Mizraim

O Rito de Memphis-Mizraim tem particular significado histórico no Oriente Médio, especialmente no Egito. O Rito de Memphis foi constituído em 1815 por franco-maçons que participaram da campanha do Egito com Napoleão Bonaparte[23:1][24:1]. No Cairo, estes maçons descobriram uma sobrevivência gnóstica-hermética e no Líbano entraram em contato com a maçonaria drusa[23:2].

The history of the ancient and primitive Memphis Misraim Masonic rite with Egyptian symbolism.

The history of the ancient and primitive Memphis Misraim Masonic rite with Egyptian symbolism.

O Rito de Mizraim, fundado em Veneza em 1788, também tem conexões com a tradição egípcia através de Cagliostro[23:3]. A união destes dois ritos em 1881 por Giuseppe Garibaldi criou o Rito de Memphis-Mizraim, que gozou de popularidade significativa no Egito até sua proibição em 1964[1:4].

Influências Orientais

A maçonaria no Oriente Médio desenvolveu características únicas devido ao seu contexto cultural. Na Síria, por exemplo, as lojas incorporaram elementos locais, utilizando tanto o Alcorão quanto a Bíblia como livros sagrados[25]. Em Israel, três volumes da Lei Sagrada são abertos lado a lado no altar: a Bíblia Hebraica, a Bíblia Cristã e o Alcorão[8:2].

Diversidade Linguística

A maçonaria no Oriente Médio é notável por sua diversidade linguística. Em Israel, as lojas trabalham em oito idiomas diferentes: hebraico, árabe, alemão, inglês, espanhol, romeno, russo e francês[7:4][8:3]. Esta diversidade reflete a natureza cosmopolita da região e a história de imigração.

Contexto Histórico e Cultural

Origens e Desenvolvimento

A maçonaria chegou ao Oriente Médio através das potências coloniais europeias, principalmente britânica e francesa. A primeira loja na região foi estabelecida em Áden (Iêmen) em 1850[25:1]. Durante o século XIX e início do XX, a maçonaria floresceu especialmente no Império Otomano, onde foi vista como um símbolo de modernidade e progresso[26].

Artistic illustration of the ancient Temple of Solomon in Jerusalem, a key symbol in Masonic traditions.

Artistic illustration of the ancient Temple of Solomon in Jerusalem, a key symbol in Masonic traditions.

Conexões com as Tradições Locais

A maçonaria no Oriente Médio estabeleceu conexões interessantes com as tradições locais. Muitos estudiosos observaram semelhanças entre os ritos maçônicos e as ordens sufis islâmicas, especialmente em termos de estrutura hierárquica e cerimônias de iniciação[27][25:2]. Esta compatibilidade facilitou a aceitação da maçonaria entre alguns muçulmanos, particularmente durante o período otomano.

Período de Ouro

O período entre 1875 e 1908 é considerado o auge da maçonaria no Oriente Médio, quando a instituição se estabeleceu como uma das mais influentes organizações sociais do Império Otomano[26:1]. Durante este período, a maçonaria atraiu membros de todas as três religiões abraâmicas e desempenhou um papel significativo na política e sociedade da região.

Desafios Contemporâneos

Declínio e Perseguição

O século XX trouxe desafios significativos para a maçonaria no Oriente Médio. As independências nacionais, o surgimento de movimentos fundamentalistas e as tensões geopolíticas contribuíram para o declínio da maçonaria na região. A associação da maçonaria com o colonialismo europeu e teorias conspiratórias sobre o sionismo alimentaram a hostilidade contra a ordem.

Situação Atual

Hoje, a maçonaria no Oriente Médio sobrevive principalmente na Turquia, Israel e Líbano, com presenças menores no Marrocos e Jordânia. A instituição enfrenta desafios contínuos, incluindo percepções negativas, pressões políticas e a necessidade de se adaptar aos contextos culturais locais.

A maçonaria no Oriente Médio apresenta um panorama de contrastes marcantes. Enquanto alguns países mantêm tradições maçônicas vibrantes e respeitáveis, outros proíbem completamente a prática, frequentemente acompanhada de perseguição severa. A Turquia emerge como o bastião da maçonaria na região, seguida por Israel, que se destaca pela sua abordagem inclusiva e multi-religiosa.

Os ritos praticados refletem tanto as tradições europeias quanto as influências locais, com o Rito Escocês Antigo e Aceito dominando a prática regional. A diversidade linguística e cultural das lojas demonstra a capacidade da maçonaria de se adaptar aos contextos locais, embora isso não tenha sido suficiente para superar as barreiras políticas e religiosas em muitos países.

O futuro da maçonaria no Oriente Médio permanece incerto, dependendo amplamente das mudanças políticas e sociais na região. A instituição continua a enfrentar o desafio de equilibrar suas tradições universais com as realidades locais, enquanto luta contra percepções negativas e teorias conspiratórias que persistem em muitas sociedades da região.

Pesquisa feita por Pablo Murad.


  1. https://www.freemason.pt/a-maconaria-e-o-mundo-islamico-um-ensaio-historico-parte-ii/ ↩︎ ↩︎ ↩︎ ↩︎ ↩︎

  2. https://www.thesquaremagazine.com/mag/article/045-ties-that-bind-freemasonrys-presence-in-the-middle-east/ ↩︎

  3. https://martinlutherking63.mvu.com.br/site/maconaria-no-mundo--islamico/gi7AJG2ELSY-3/atr.aspx ↩︎

  4. https://folhadolitoral.com.br/colunistas/maconaria/o-libano-e-a-maconaria/ ↩︎ ↩︎ ↩︎

  5. https://agendamaconicabrasil.com.br/midias/trabalhos-maconicos/Aprendiz/ritos-maconicos.pdf ↩︎ ↩︎

  6. https://colunasdesalomao2775.mvu.com.br/site/a-maconaria-no-mundo-islamico--origens--historia-e-legado/4DIjvd-1ZUV4-3/nta.aspx ↩︎

  7. https://www.palestine-studies.org/en/node/77941 ↩︎ ↩︎ ↩︎ ↩︎ ↩︎

  8. https://noesquadro.com.br/maconaria-islamismo/ ↩︎ ↩︎ ↩︎ ↩︎

  9. https://www.freemason.pt/maconaria-israel-arabes-judeus-abracam-irmaos/ ↩︎ ↩︎

  10. https://www.gob.org.br/ritos-praticados/ ↩︎ ↩︎

  11. https://pt.linkedin.com/pulse/maçonaria-em-países-islâmicos-alexandre-capobianco- ↩︎ ↩︎

  12. https://www.levantineheritage.com/pdf/Freemasonry_and_fraternalism_in_the_Middle_East.pdf ↩︎ ↩︎ ↩︎

  13. https://noesquadro.com.br/maconaria-no-mundo-israel/ ↩︎ ↩︎ ↩︎ ↩︎

  14. https://www.freemason.pt/o-rito-ismaelita/ ↩︎

  15. http://domedioorienteeafins.blogspot.com/2016/07/a-franco-maconaria-no-mundo-arabe.html ↩︎

  16. https://linfordresearch.info/fordownload/World of Fmy/Nairn Middle East.pdf ↩︎

  17. https://redecolmeia.com.br/2023/05/13/a-maconaria-e-a-criacao-do-estado-de-israel/ ↩︎

  18. https://goisp.org.br/institucional/ritos/ ↩︎

  19. https://www.freemason.pt/a-maconaria-e-o-mundo-islamico-um-ensaio-historico-parte-i/ ↩︎ ↩︎

  20. https://en.wikipedia.org/wiki/Freemasonry_in_Lebanon ↩︎

  21. https://pt.wikipedia.org/wiki/Rito_de_Mênfis-Misraim ↩︎

  22. https://cglem.org/pt-pt/confederacao/uma-nova-loja-maconica-no-sul-de-marrocos/ ↩︎

  23. https://www.michaelwinetzki.com.br/2021/04/conheca-os-ritos-maconicos-memphis.html ↩︎ ↩︎ ↩︎ ↩︎

  24. https://bibliot3ca.com/a-maconaria-no-mundo-islamico/ ↩︎ ↩︎

  25. https://liberdadeeamorcassia.mvu.com.br/site/maconaria-e-sua-origem-egipcia/oyvYuF6DF6A-3/nta.aspx ↩︎ ↩︎ ↩︎

  26. https://www.reddit.com/r/Morocco/comments/113nqyk/masonerí_in_morocco/?tl=pt-br ↩︎ ↩︎

  27. https://pt.scribd.com/document/168821607/Rito-Maconico-Oriental-de-Misraim-e-Memphis ↩︎